"Mas você nunca comeu capivara?" Redefinições locais das prescrições sobre o uso da fauna nativa nas zonas úmidas do baixo delta do Paraná
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Resumo
Nas últimas décadas, as zonas úmidas do Delta do Paraná formaram-se como um território em disputa entre múltiplos agentes sociais. Como parte dessas tensões, há propostas que buscam estabelecer um marco orientado para a conservação do ecossistema em geral e da biodiversidade em particular. Este artigo tem como objetivo analisar as formas em que os habitantes de uma região do Delta baixo rio Paraná redefinir os requisitos para o uso do que é classificada como a vida selvagem nativa e em particular as espécies que são consideradas ameaçadas de extinção. Argumentamos que o dispositivo que concebe a perda da biodiversidade como um problema é típico da fase de expansão do ambientalismo. Propomos que os discursos das pessoas locais são moldadas pelas narrativas que destacam a necessidade de preservar a vida selvagem nativa, e destacar como através da metodologia etnográfica têm sido capazes de apreender quadros interpretativos locais que contrastam com o discurso hegemônico científico-técnica e constituem práticas de resistência ocultas. Finalmente, enfatizamos que os locais reproduzem a racionalidade instrumental das lógicas conservacionistas e preservacionistas em certos contextos, enquanto em outros os confrontam a partir de uma racionalidade substantiva ancorada em pertencer ao seu lugar.